A Tribute to Caetano Veloso (… eu já tenho !)

An invaluable contribution to my life arrived courtesy of Caetano Veloso, introducing me to Brazilian music by way of that seducing voice and beginning one love affair that I will never end. A thousand humble thanks to Caetano, a unique musical giant whose talents transcend genre.”

Podia ter sido escrito por milhares e milhares de pessoas em todo o mundo, que olham para Caetano da mesma forma: um gigante musical único, cujo talento transcende qualquer género. Eu subscreveria esta opinião sem pestanejar. Contudo,  aautora deste texto é, talvez, das mais improváveis ou, pelo menos, inesperadas. Ou não fosse Chrissie Hynde uma referência incontornável na cena rock/new wave, pós punk, a alma mater e eterna líder dos Pretenders.

Suponho que, em qualquer tributo a Caetano Veloso, a dificuldade estará na escolha. De facto, 50 anos de carreira, centenas de canções escritas, muitos estilos e géneros musicais atravessados, colaborações improváveis,  consituem uma arca do tesouro para quem se dispuser a produzir  um tributo.

Neste, já descontadas as restrições impostas por condições contratuais de artistas ou acesso a catálogo e salvo uma ou outra escolha mais óbvia, as opções dos intérpretes que regravaram estas 16 canções preferiram  músicas menos óbvias do mestre baiano.

O disco, com direção artística de Paul Ralphes, parece ser uma iniciativa da Universal Music, homenagem internacional no âmbito da celebração dos 70 anos de Caetano. De facto,  o nome dele não aparece nos créditos e só recentemente foi divulgado e referido no site oficial. 

O disco pretenderá alcançar o mercado internacional, transportado na bagagem de Chrissie Hynde, Beck, Drexler, Poveda ou mesmo Ana Moura. Apela a um registo mais experimental, desligado da MPB, a uma faceta mais de compositor internacional. Contudo, na minha opinião de fã incondicional, o disco, sendo plural e harmonioso, não tem exactamente um fio condutor, pretende tocar fases, conceitos e registos diferentes, acabando por se perder pelo caminho.

Mas tem, certamente, a ousadia, o arrojo e a tentação pelo risco que sempre conduziram a carreira do Mestre.

Todas as gravações de “A Tribute to Caetano Veloso” são inéditas e, creio, por artistas que (à excepção de Sérgio Dias em anteriores encarnações dos Mutantes) nunca tinham gravado Caetano antes.  Aqui fica a lista de faixas, e respectivos intérpretes, de “A Tribute to Caetano Veloso”

1. You Don’t Know Me / The Magic Numbers (UK)

Uma das faixas emblemáticas do album Transa (1972), um dos discos do exílio, regressa a Londres, refeita pela mão segura dos “The Magic Numbers”, numa versão onde nem faltam as citações do original em português.

2. Eclipse Oculto / Céu (Brasil)

Do disco Uns (1983), com Céu a arrancar uma versão muito anos 80, com arranjo de Fernando Catatau.

3. The Empty Boat / Chrissie Hynde (UK), com Moreno Veloso, Kassin e Domenico (Brasil)

No que é um dos momentos deste disco, Chrissie Hynde volta a reunir-se à formação com que se apresentava no Brasil entre 2004 e 2007, época em que morou em S.Paulo, o trio Moreno(Veloso)+2. Faz uma bela versão de uma canção esquecida do disco Caetano Veloso (1969), aquele de capa branca

4. London, London / Mutantes (Brasil)

Uma versão dos (actuais) Mutantes, do eterno Sérgio Dias. Já sem Rita Lee, Arnaldo Batista, Liminha ou mesmo a Zélia Duncan de formações mais recentes, Sérgio Dias vai-se reinventando continuamente. Aqui, numa versão esmagadora de London, London, originalmente gravada em Caetano Veloso (1971), o primeiro disco do exílio, com uma fotografia de Caetano na capa que, segundo o próprio, mostra que estava na maior deprê.
Um arraso !

5. Michelangelo Antonioni / Beck (USA)

Uma inesperada escolha de Beck, mais uma canção pouco lembrada de Noites do Norte (2001). Confesso que não só não me trouxe nada de novo, como nem sequer encontro um grande rasgo nesta versão.

6. Fora da Ordem /Jorge Drexler (Uruguai)

Muito próximo do original, apesar da mistura de sotaques, o uruguaio recupera Fora da Ordem, do disco Circuladô (1992).

7. É de Manhã / Marcelo Camelo (Brasil)

Uma belíssima e segura versão de Marcelo Camelo (Los Hermanos) para esta canção que, creio, Caetano nunca gravou. Escrita originalmente para Bethânia, as unicas interpretações que conheço de Caetano são em espectáculos ao vivo. Com a própria, no show comemorativo dos 35 anos de carreira de Bethania ou com Thalma de Freitas no programa Samba na Gamboa, da TVMinas.

8. Quem me Dera / Devendra Banhart (USA/Venezuela) e Rodrigo Amarante (Brasil)

Uma viagem de quase 50 anos na máquina do tempo para recuperar esta bela canção do disco Domingo (1967). Gosto muito desta versão, mas sou suspeito, porque acho que qualquer canção fica melhor do que é, com a participação de Rodrigo Amarante (Los Hermanos, Orquestra Imperial e Little Joy).

9. Alguém Cantando / Momo (Brasil)

Originalmente no disco Bicho (1977), aqui recriada por Marcelo Frota, lider do projecto Momo. Não me convenceu muito …

10. Trilhos Urbanos / Luisa Maita (Brasil)

Uma das canções preferidas de Caetano, do alinhamento do disco Caetano Veloso – Acústico (1986), por uma das novas vozes do Brasil que, creio, tem apenas um disco editado, Lero-lero.

11. Janelas Abertas nº 2 / Ana Moura (Portugal)

Ana Moura, a representar Portugal, transforma num fado (que talvez já o fosse) Janelas Abertas nº2, originalmente incluída num disco de referência da MPB, o excelente Caetano e Chico – Juntos e Ao Vivo (1972), gravado no rescaldo do regresso de Londres. Acho estranha esta escolha para a alma de Fado de Ana Moura. Suspeito que não convencerá do lado de lá do Atlântico e é pena.

12. Da Maior Importância – Tulipa Ruiz (Brasil)

Regresso ao fabuloso Noites do Norte (2001) através de outra das novas vozes do Brasil, a cantora, compositora, artista plástica e ilustradora Tulipa Ruiz. Aqui, começa tranquilamente sedutora e acaba roqueira pesada.

13. Força Estranha / Miguel Poveda (Espanha)

Outra canção que Caetano nunca gravou em disco. Escrita em 1978 para Roberto Carlos, o Rei fez dela um dos seus grandes êxitos, posteriormente gravado por muitos outros,  desde Gal a Ana Carolina. De Caetano conheço apenas versões de show, como este em Salvador. Miguel Poveda apela à latinidade para uma bela versão. Um flamenco tropical.

14. Qualquer Coisa / Qinho (Brasil)

Ao disco com o mesmo nome, Qualquer Coisa (1975), foi Marcos Coutinho, o Qinho, buscar uma das mais marcantes canções de Caetano. E eis como um garoto do Rio, surfista da Zona Sul, se enfrenta com uma canção composta ainda ele não era nascido. E, naquela que seria porventura uma das canções mais fáceis de defender do disco todo, creio que Qinho sai derrotado.

15. Peter Gast / Seu Jorge, com Toninho Horta e Arismar Espírito Santo (Brasil)

Voltamos a Uns (1983), para reencontrar Peter Gast, a escolhida de Seu Jorge. Para não facilitar em nada, veio acompanhado de Toninho Horta, um dos pilares do saudoso Clube da Esquina, de Milton, Lô Borges, Wagner Tiso, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Beto Guedes. Show de bola !

16. Araçá Azul / Mariana Aydar (Brasil)

Araçá Azul (1973), um dos disocos mais experimentais de Caetano Veloso e, como tantas outras vezes ao longo da carreira, uma pedrada no charco e uma brusca inflexão de rumo. Mariana Aydar não deslustra e acrescenta, ela tambem, um toque de modernidade.

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