alexandra, a grande

A blogosfera reserva-me as melhores surpresas (as piores tambem, mas não é para isso que aqui estou).

Não sendo um viajante cibernético muito assíduo, nem muito esclarecido, vou, basicamente, saltando de blog para blog, de site para site, sem grande critério nem lógica. Acontece-me, por isso, levantar muita concha vazia. De vez em quando, contudo, encontro uma pérola.

Uma noite destas, dei por mim a rir perdidamente com a escrita hilariante de alexandra, a grande, ou o hindu-kush num 5º andar dos subúrbios.

Olhar atento, ilustrações certeiras, escrita ágil, ironia fina e humor afiado (sendo, por vezes, a autora o próprio alvo, forma superior de humor inteligente), fazem da leitura de alexandra, a grande, uma viagem alucinantemente divertida. Um blog absolutamente im-per-dí-vel.

Ora vejam só esta pequena amostra. Depois, corram a ler alexandra, a grande.

“Quando eu era pequena tinha muito medo de lobos e de ursos. Não é que fosse hábito encontrá-los. Não ía assim muitas vezes ao jardim Zoológico nem era frequentadora de bosques profundos. No recreio da escola, aliás, havia um único arbusto raquítico que mal dava sombra quanto mais guarida a animais ferozes.

Apesar desta fraca convivência, os lobos infernizavam-me a noite em pesadelos freudianos que nunca consegui decifrar e, tal como os ursos, entravam nas histórias infantis todas. E entravam a matar. Eu não tinha caracolinhos de ouro, mas tinha medo.

Certo dia, fui a uma floresta a sério, lá para as beiras. Não vi nenhum urso, mas um primo malicioso convenceu-me que os foguetes madrugadores do 15 de Agosto eram afinal tiros de caçadores atrás de lobos. Custou-me muito adormecer nessa noite. Quando acordei, um mosquito qualquer tinha-me picado na pálpebra. Algumas horas e duas injecções depois voltei a abrir o olho esquerdo. Não fiquei com medo de mosquitos.

Outra vez fui à Cidade Velha, em Cabo Verde e andei, feita missionária, a pegar ao colo nos bebés todos e a abraçar os irmãos deles. Uma semana e muita comichão depois, foi-me diagnosticado um caso sério de escabiose. Sarna, para os amigos. Não havia lobos na ilha de Santiago.

Já grandinha, pernoitei num hostel, em Istambul, terra pouco conhecida pelos seus ursos, mas onde se tem por hábito não mudar frequentemente a roupa de cama. Segui viagem com um casal de pulgas na t-shirt. Fizeram clic quando as matei.

O fim de semana passado, estive a ler para uma criança: a história do Capuchinho Vermelho. Encostei a minha cabeça à dela na parte em que se tem de rosnar “São para te comer”, e fiz sucesso, mas no fim, quem foi comida fui eu. Três coisinhas pequenas saltaram-me para cima, as suas patinhas pequeninas percorreram os caminhos da minha floresta capilar um dia e uma noite.

Ainda tenho medo de lobos e ursos, mas agora tenho muito mais medo de piolhos. A 15€ o frasco de shampoo, não é para menos.”

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