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Miradouro da Lua

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Fotografias: João Martins Pereira

Quem sai de Luanda e ruma a sul, a caminho da Barra do Kwanza ou das praias de Cabo Ledo, precisa apenas de 40 ou 50 quilómetros para, sem custo nem teletransporte, aterrar numa paisagem lunar. Estará no Munícipio da Samba e chegou ao Miradouro da Lua.

Geologicamente, dizem-me ser o efeito provocado por séculos de chuvas tropicais, de grande intensidade mas de curta duração, em solos sedimentares de arenito. Pouco me importa, apenas sei que a paisagem é a de uma Lua Tropical, de uma beleza irreal.

A correr para o mar, lá ao fundo, os sentidos são poucos para acompanhar formações esculpidas, sulcos profundos, colunatas que se erguem do chão em ordens sucessivas, em jogos de cores, entre o branco lácteo e o vermelho sanguíneo, onde o ocre, tão ocre como só a terra de África pode ser, predomina. A visão de um pôr-do-sol africano recortado pelas escarpas do Miradouro da Lua é hipnótico, alucinante.

Corram a ver !

Sweat !

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Caxito
Angola

Fotografia: João Martins Pereira

Art Monaco 2013

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Terminou ontem a Art Monaco 2013, mais uma importante Feira Internacional de Arte, onde a Cordeiros Galeria se apresenta e onde, mais uma vez, tem a gentileza de me incluir na escolha de autores que exibe.

Desta vez, com uma imagem que fiz em Angola, na Barra do Dande, esta:

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O continuado reconhecimento da Cordeiros Galeria, na pessoa do Agostinho Cordeiro, do que vou fazendo em fotografia, é motivo de orgulho para mim.

Viriato da Cruz (1928-1973)

Namoro

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.

Sua pele macia – era sumaúma…
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
tão rijo e tão doce – como o maboque…
Seu seios laranjas – laranjas do Loge
seus dentes… – marfim…
Mandei-lhe uma carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o Maninjo tipografou:
“Por ti sofre o meu coração”
Num canto – SIM, noutro canto – NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou.

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro…
E ela disse que não.

Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu…
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos…
falei-lhe de amor… e ela disse que não.

Andei barbado, sujo, e descalço,
como um monangamba.
Procuraram por mim
” – Não viu…(ai, não viu…?) Não viu Benjamim?”
E perdido me deram no morro da Samba.
E para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário

Tocaram uma rumba dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: “Aí Benjamim!”
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim
pedi-lhe um beijo – e ela disse que sim.

Viriato da Cruz nasceu em Porto Amboim, Angola, em 1928. Poeta, foi um principais mentores do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola e da revista Mensagem. Saiu de Angola em 1957 com destino a Paris e ao encontro de um intelectual angolano, Mário Pinto de Andrade. Foi fundador e primeiro secretário-geral do MPLA, movimento de que veio a ser expulso em 1963, por dissidências com Agostinho Neto. Radicado em Pequim a partir de 1966, distancia-se do regime maoísta, que o impede de abandonar a China e relega a um campo de trabalho, degradação e fome, onde veio a morrer em 1973.


Este Namoro, musicado por Fausto, foi cantado por Sérgio Godinho no disco “De Pequenino se Torce o Destino” de 1976.