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“desMemória” na imprensa

A minha exposição “desMemória” teve honras de última página na Gazeta desta semana.

Vai ficar no Museu de Ciclismo, Caldas da Rainha, até ao próximo dia 27 de Março.

Gazeta

Inaugurou !

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Com a amável presença do Dr. Tinta Ferreira, Presidente da Câmara Municipal das Caldas da rainha, inaugurou hoje a minha exposição “desMemória”, um olhar íntimo e triste sobre os Pavilhões do Parque.

São 20 imagens, de grande dimensão, a preto e branco que retratam de forma crua mas verdadeira o estado de abandono a que chegaram os Pavilhões, uma obra de incalculável valor arquitectónico, construtivo e afectivo para as Caldas da Rainha. O conjunto, indissociável, constituído pelo Hospital Termal, os Pavilhões, o Parque e a Mata são um património da Cidade e do País que, tem que ser preservado, valorizado e divulgado.

As 20 imagens que integram esta mostra já podem ser vistas no meu site JMPhoto, na página Exposições.

A exposição estará patente até ao próximo dia 27 de Março, no Museu de Ciclismo (encerra à 2ª feira), Rua de Camões, 57.

Se passarem pelas Caldas nestas datas, visitem a exposição, vejam as imagens e leiam o magnífico texto que o Prof. João B. Serra teve a generosidade de escrever.

Se quiserem um cicerone, pois basta contactarem-me e terei o maior gosto em vos acompanhar !

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DesMemória – Exposição

Fiz um conjunto de fotografias sobre os emblemáticos “Pavilhões do Parque”, no seu infeliz estado de conservação actual.

As imagens estarão em exposição no Museu de Ciclismo, Caldas da Rainha, entre 11 e 27 deste mês.

Esta exposição tem o apoio da Camara Municipal das Caldas da Rainha, da Gazeta das Caldas e do Museu de Ciclismo.

Venham visitar-me !

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Inauguração da minha exposição na minha cidade !

A minha exposição “Olhar Outros Olhares” vai estar patente no Museu do Ciclismo, Caldas da Rainha, até ao proximo dia 26 de Julho.

É uma colecção de 40 retratos feitos nas ruas do Mundo.

Venham visitar-me ! 

 

Está quase …

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Gazeta das Caldas

Mais uma vez, a Gazeta das Caldas fez uma simpática referência a este humilde filho da terra. Muito obrigado à Natacha e ao Zé Luís.

Fotógrafo caldense participa em mostra colectiva em Vilamoura

20121124-205237.jpgO caldense João Martins Pereira está a participar na exposição colectiva “Larger than Life” que está a decorrer desde 2 de Novembro na galeria Labirinto Contemporary, que fica no Hotel Parque das Laranjeiras, em Vilamoura (Quarteira).
O fotógrafo está a participar com quatro imagens. João Martins Pereira é economista, mas faz fotografia nas muitas viagens que realiza pelo mundo. Esta mostra integra fotografias, ilustrações e colagens. Estão presentes trabalhos de Ana Luísa Silva, Bruno Pereira, Carlos Correia, Carlos Farinha, David Rosado, Gabriel Colaço, Israel Guarda, Paulo Romão Brás, Possidónio Cachapa, Rita Redshoes e de Roy Andres Hofer. A curadoria da exposição, que poderá ser apreciada até ao dia 30 de Novembro, é da Drop d contemporary.
N.N.

A Gazeta das Caldas e eu – II

A Gazeta das Caldas teve a gentileza de me dedicar um espaço na edição do dia 15 de Maio, o dia da (minha) Cidade. A matéria é focada nas fotografias e nas viagens, mas refere tambem a minha ligação à Cidade que me viu nascer, onde passo grande parte do meu tempo livre, onde vive a minha Mãe, onde tenho os meus Amigos e para onde voltarei logo que a vida profissional o permita ou o destino assim determine.

É naturalmente um motivo de orgulho que a minha terra se lembre de mim. O original, tal como publicado na Gazeta, está aqui

O texto é da jornalista Natacha Narciso e as fotografias são minhas.

Fotógrafo caldense percorre o mundo captando gentes e suas vivências

Economista de profissão, João Martins Pereira continua, aos 55 anos, a correr mundo e a captar imagens
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João Martins Pereira corre o mundo a fotografar. Já esteve em mais de 70 países e apesar de classificar a fotografia como um passatempo, as suas imagens podem ser apreciadas em iniciativas internacionais como a Art Madrid

Sempre que pode, este caldense de 55 anos parte para captar outras vidas nos desertos (que tanto aprecia), ou na Amazónia, sem esquecer os vários países de África ou do Sudoeste Asiático. Avesso a correntes ou a conceptualizações da fotografia, o fotógrafo quer continuar a conhecer diferentes formas de vida e, através da imagem, compreender um pouco melhor o mundo actual.

Foi com um conjunto de três imagens sobre a Angola que João Martins Pereira marcou presença na última edição da Art Madrid. As fotografias referem-se à estrada do Caxito – à entrada de Luanda – onde o fotógrafo caldense captou campas térreas junto à beira da estrada, resultantes dos confrontos da guerra civil angolana e que agora dividem o espaço com o início da construção de uma auto-estrada.

“São imagens que referem os saltos paradoxais ou perversos que a própria História dá. Há poucos anos naquele local eram enterradas pessoas à beira da estrada e agora abria-se uma estrada com maquinaria pesada”, disse o fotógrafo.
Apesar da fotografia ser um passatempo, ao longo dos anos João Martins Pereira foi adquirindo competências e fazendo workshops com outros fotógrafos, portugueses e estrangeiros, que admira, como foi o caso de Steve McCurry, o autor da famosa fotografia da rapariga afegã de olhos verdes.
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A vida selvagem é também uma área de interesse deste fotógrafo
O caldense explica que não tem pretensões, que não pertence a nenhum grupo, associação ou corrente defensora de visões mais conceptuais da fotografia.
Diz até que fotografa “por gosto e por intuição” e que tem sobretudo gosto “pela observação do mundo que nos rodeia”.

Sempre que pode, João Martins Pereira – que é assessor do Conselho de Administração do BES – troca o fato e a gravata pelo equipamento fotográfico e parte em busca de olhares, um pouco por todo o mundo. O que mais lhe importa captar, são as pessoas e suas vivências.

Na sua opinião, quanto mais se viaja melhor se compreendem outras culturas, hábitos e costumes, no fundo tudo aquilo “que faz essa harmonia (ou desarmonia) global em que vivemos hoje em dia”.

Fotografar para melhor compreender o mundo

O gosto pela fotografia começou cedo. Ainda nas Caldas, em 1972, quando frequentava a secção liceal, João Martins Pereira foi um dos elementos que organizou o CEFA – Concurso Escolar de Fotografia Amadora, que teve lugar no Posto de Turismo nos antigos Paços do Concelho. Recorda-se que o tema era livre e que o grupo ligado à organização – tinham então 14 e 15 anos – conseguiru estabelecer acordos com lojas de referência – como a Tália ou a Foto Franco – para conseguir descontos na revelação das imagens.
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Aos 17 anos João Martins Pereira foi estudar para Lisboa, tendo-se formado em Economia. Mais tarde tornou-se consultor de uma firma internacional de consultadoria, o que o levou a viajar de forma constante e até a residir temporariamente no estrangeiro. Viveu em Cabo-Verde, Angola, Guiné Bissau, Grécia, Inglaterra e Alemanha.

Entre 1997 e 2000, o caldense viveu em Kiev (Ucrânia), seis anos após a independência do país e apenas 10 depois de Chernobyl. “Foi um período fascinante onde a História passava à nossa frente, todos os dias”, disse. Acabou por estar presente e (de alguma forma até participar) num período de aprendizagem “de um novo modo de vida para um povo e um país, de reconstrução da sua identidade, da descoberta de oportunidades, realidades e ameaças até então desconhecidas ou negadas. Claro que as dores de crescimento eram grandes e os tropeções maiores.

“Conheci, ainda, um povo de magnífica abnegação, capacidade de resistência e generosidade”, acrescentou.
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E como é a sua relação com a terra natal? “É uma relação de militância”, contou o fotógrafo, que apesar de viver em Lisboa com a esposa, tem família a viver nas Caldas da Rainha, o que o faz ter uma relação permanente com a região.
Conta ainda que as suas memórias e raízes “estão neste eixo das Caldas da Rainha e da Foz” e é nesta última que tem uma segunda casa em frente à Lagoa.

O seu pai, José Eduardo Martins Pereira assegurou várias funções na Gazeta das Caldas, entre elas chefe de redacção. Hoje o economista-fotógrafo recorda que em menino acompanhava o pai à redacção deste semanário e que ainda sente “o cheiro do chumbo, o fascínio pelas mesas dos tipos, a precisão dos tipógrafos na composição, o barulho da rotativa e a revisão de provas. Outros tempos…”.

“O deserto é uma realidade fascinante”

João Martins Pereira prefere fotografar a cores, encarando o preto e branco como um recurso adicional. Usa a sua Nikon e conta que nas viagens que faz para fotografar está a tornar-se cada vez mais exigente. “Não necessariamente nos destinos e muito menos nas condições de viagem (conforto ou condições materiais), mas sim no tipo de viagem que se quer fazer, no que se quer experimentar”. Interessa-lhe, pois, o contacto com uma realidade da qual tem uma noção prévia, mas depois o que lhe importa “é a reacção espontânea a uma determinada realidade ou situação”.
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E quais foram as viagens mais marcantes? Por norma “são sempre as últimas”, mas as que realizou à Etiópia, à Índia e à Amazónia estão no top deste fotógrafo-viajante. O caldense ainda tem outro interesse em relação à fotografia – a da vida selvagem. E por isso não esquecerá as incursões que fez na Tanzânia, Zimbabué e Botswana. Refere alguns locais de África do Sul ou do Quénia, onde regressa “quando tenho tempo e disponibilidade financeira”.

Destaca ainda todo o Sudoeste Asiático, sobretudo o Vietname, o Cambodja e a Indonésia, país e território que o marcou “por ser um sitio fascinante de grande contraste social e religioso”.

Para o fotografo, o deserto é “uma realidade fascinante”. Diz que conhece alguns pelo mundo e deixa-se sempre encantar pela diversidade que aqueles territórios oferecem, consoante a hora do dia ou as condições climatéricas.

João Martins Pereira tem imagens nalguns sítios de partilha na internet, colabora esporadicamente com publicações que se dedicam à fotografia e tem tido um espaço na revista sobre viagens designada “Outras Coordenadas”.
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“Tenho tido a oportunidade de participar com fotografias para imagens de alguns livros“, acrescentou.

O caldense tem uma colaboração longa com a Galeria Cordeiros e é através deste espaço que tem marcado presença em eventos internacionais como a Arte Madrid.

“O fotojornalismo quando levado a sério é uma profissão de alto risco”

“Com a situação que actualmente vivemos, as imagens de actualidade voltaram em força”. É a opinião do fotógrafo quando questionado sobre o fotojornalismo na actualidade. “Irónica e perversamente, os teatros de guerra actuais, os desastres naturais e as situações de tensão e ruptura social, vieram repor o fotojornalismo na ordem do dia”, disse, acrescentando que os tsunamis, terramotos, vulcões, atentados bombistas, desastres ecológicos, ataques terroristas, guerras civis, bombardeamentos, levantamentos sociais, embates religiosos, países que se fragmentam e dividem, secas e inundações “são marcas da era em que vivemos e são o palco dos grandes fotojornalistas”.
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Entre outros profissionais, o caldense referiu que João Silva, um sul-africano de origem portuguesa, possui “um trabalho notável” sobre as tensões sócio-raciais na África do Sul, mas ficou sem as suas pernas por causa do rebentamento de uma mina e que Kevin Carter – que ganhou o Pullitzer com a tristemente célebre e controversa fotografia de um abutre a vigiar uma criança esquelética e moribunda no Sudão – não resistiu à pressão e suicidou-se.

Por tudo isto João Martins Pereira considera que a “fotografia da verdade e do instante, é, se levada a sério, uma profissão de alto risco”.

Na Amazónia e num festival budista no Sri Lanka…

João Martins Pereira gostaria de ser um viajante, mas, por causa da sua actividade profissional diz que é apenas “um turista, talvez um pouco mais ousado que o comum”, com limitações de tempo e de orçamento. Mesmo assim, teria algumas histórias de viagem para contar nos mais de 70 países que teve a oportunidade e o privilégio de conhecer.
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No final dos anos 80, o seu último dia de viagem pelo Sri Lanka coincidia com a noite principal do “Perahera” em Kandy, o Festival do Dente de Buda, a maior celebração budista do país. “Cheguei a Colombo já à noite, tinha avião de regresso na manhã seguinte, mas, claro, achei óbvio gastar os últimos dólares a procurar um guia que estivesse disposto a conduzir 120 quilómetros de estrada de montanha até Kandy, permitir-me um par de horas no festival e conduzir de regresso a Colombo. Uma noite perdida para ele, ganha para mim”.

A meio do caminho lembra que rebentou uma tempestade tropical violentíssima, com chuva mais que torrencial. “Chegámos a Kandy por volta da uma da manhã, a um ambiente alucinante. Milhares, muitos milhares de pessoas, em moles compactas, centenas de elefantes belissimamente decorados (a imagem de marca e a principal característica do Pereahera), danças, cânticos, nuvens de incenso do ar, lavadas pela chuva”, recordou.

O seu diligente guia tinha-lhe indicado o caminho e ficado algures para trás na inglória tentativa de encontrar um lugar para estacionar o carro. “Marcamos um ponto de encontro que, obviamente, nunca mais encontrei”. A essa altura, João Martins Pereira já não tinha qualquer esperança nem vontade de apanhar o avião de regresso, apesar de não ter sequer dinheiro para alterar o voo nem ficar num hotel. “Foi, assim, com um misto de alívio e desapontamento que, com horas de atraso, pelo meio de elefantes, chuva e milhares de pessoas, vi o guia a correr em pânico na minha direcção. Gritava repetidamente e sem ordem “time, plane, rain, time, bad road”. Voltamos ao carro, estacionado nos limites da cidade, à estrada, à montanha e à chuva torrencial”, contou.

Por que já não tinha hotel, o seu saco de viagem estava no carro. Quando chegou ao aeroporto, tinha o check-in fechado, mas contou a sua aventura e acabaram por o levar de automóvel até ao avião, “Sentei-me sob o olhar furioso dos outros passageiros e acordei em Londres”.

Uma outra aventura que recorda foi vivida numa caminhada de três dias pela selva amazónica em que foi guiado por Cristovam, um caboclo (indígena) peruano equipado, unicamente, com uma faca de mato. “Entre as historias que contava de ataques de onças, picadelas de tarântulas e encontros com serpentes, eu só pensava “mas como é que este gajo faz a mais pequena ideia de onde está ?””

Entre os hipopótamos no Botswana

Outra aventura. Depois de uma volta supostamente simples e tranquila de moto4 no deserto do Qatar, o guia não estava no lugar combinado – uma duna visível à distância, e reconhecível pelo contorno e pela coloração. “Com todo o fascínio que tenho pelos desertos, esperar ao sol, sem ver vivalma e sem ideia de rumo a tomar, traz-nos uma sensação peculiar… “, recordou.
Ao fim de três horas, o jipe do guia acabou por aparecer, tranquilamente, por detrás da duna. “Sorridente, explicou-me que estava na hora da oração e a mesquita ficava a quase uma hora dali…”.

Noutro percurso, desta vez num passeio de canoa, ao pôr-do-sol, numa lagoa cheia de hipopótamos, no Delta do Okawango, no Botswana, a embarcação virou. Segundo o caldense, os hipopótamos “são bestas de má convivência, responsáveis pela larguíssima maioria dos acidentes fatais em África”. Explica que têm o mau habito de mergulhar na água, normalmente lodosa e barrenta, e reaparecer três ou quatro minutos depois num sítio imprevisível e distante. Saem da água ao pôr-do-sol para pastar durante a noite e, por mecanismo de protecção e segurança, “atacam tudo e todos os que tenham a desgraçada ideia de se intrometerem entre o bicho e o seu destino”. Portanto – para além de ter perdido todo o material fotográfico que carregava, e de estar dentro de égua, enterrado no lodo, ao pôr-do-sol, numa linha recta entre dezenas de hipopótamos e a margem – aquele acidente não foi seguramente ”um dos momentos mais tranquilos da minha existência”, ironizou.
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Apanhado pelo furacão Emily

O fotógrafo caldense foi também “apanhado” na Península do Yucatán, no México, pelo “Emily”, furacão devastador que atingiu a costa com o grau cinco, o máximo na escala das tempestades tropicais. “O Emily tocou terra no exacto ponto em que me encontrava e a experiência da passagem do furacão dá-nos uma ideia muito precisa da força dos elementos”, contou. João Martins Pereira recorda-se, especialmente, dos minutos de intervalo entre a passagem das duas paredes de vento e chuva e em que se permanece no cone do furacão. “A sensação de vazio absoluto, sem luz, sem som, de total ausência, é impressionante. Na manhã seguinte, o cenário de devastação era indescritível. À chegada ao aeroporto de Lisboa tive direito a entrevista no telejornal e tudo!”.

A Gazeta das Caldas e eu

                                                         

Há uns anos, mais propriamente em 2007, o Luís Costa Leal pediu-me um texto para publicar no Suplemento dedicado à Lagoa que a Associação Mar d’Água editava na Gazeta das Caldas.

A Lagoa está inscrita no meu ADN emocional, é, como lhe chamei na galeria de imagens do site, “Mi Patria Chica”.

À Gazeta ligam-me, por várias razões, laços de profunda e emotiva afectividade.

O meu Pai, nas muitas quimeras que cultivava, teve na Gazeta, em várias condições, funções e estatutos, umas das suas paixões maiores.

Nos idos de 72/73, a Gazeta publicou (creio que) dois números de um Suplemento chamado “Análise”. Dada a situação vigente, as tensões socio-políticas da região – a proximidade de Lisboa e das crises académicas, a tradição republicana e oposicionista das Caldas personificada na família Freitas, as desventuras permanentes do CCC – Conjunto Cénico Caldense  com a censura, os ecos próximos das lutas dos vidreiros da Marinha Grande, a perspectiva da Guerra Colonial – entregar a concepção e edição de um suplemento cultural a um grupo de jovens idealistas foi seguramente um arrojo (perigoso !) para a época. Eu era dos mais novos, talvez o mais novo de todos, de um grupo onde estavam o meu primo Zé Sancho, o Santiago Freitas, o Manuel Nunes, o Joca Ferreira, o Rogério Matias, entre outros.  Alguns já estavam em Lisboa na Universidade, outros (como eu) ainda penavam pelas agruras do 7º ano do Liceu. O facto é que os dois números que conseguimos publicar  não foram do agrado de uns tais senhores  que, à época, eram donos da inteligência, do pensamento e da expressão e a Gazeta foi (pouco) subtilmente “aconselhada” a suspender o “Análise”. Outros tempos ….

Desse grupo, creio que já não chegou a fazer parte o Zé Luís Almeida e Silva que, nessa altura e após cumprir a recruta no serviço militar, já teria procurado os ares mais desanuviados de Paris. O Zé Luís é, desde há anos a esta parte, um paladino da imprensa regional e Director da Gazeta.

O texto que escrevi, a muito custo e alguma dor, foi este –

Outubro de 1967

Chamo-me João Filipe e já fiz 10 anos. A minha irmã Susana tem 7 anos e como não sabia dizer o meu nome, chamava-me Japi.

Estou muito contente, já fiz a 4ª classe e o meu Avô Filipe deu-me um relógio. O meu Avô João já morreu e nunca o conheci.

Andei na Escola da Praça do Peixe e o meu Professor chamava-se Diniz. Tenho muitos colegas, o Zé Clérigo, o Rogério Abreu, o Fabian, o Ernesto que é da Guiné, o Moreno, o Serralha, o Zé Agnelo, o Mané e outros. Aprendi a ler, a escrever e a contar e sei os rios, as serras e os caminhos-de-ferro da Metrópole, de Angola e de Moçambique, foi assim que me ensinaram.

Agora vou para uma escola nova, chama-se Telescola e parece que as aulas são pela televisão. Não sei bem como é.

Moramos na Rua Capitão Filipe de Sousa, mesmo em frente à Garagem dos Abrantes. A nossa casa, onde eu nasci, faz esquina para a Rua do Jardim.

Faço colecção de caramelos, tenho a caderneta e uma data de repetidos, que troco na escola. Tenho a equipa do Benfica toda, o Eusébio, o Torres, o Coluna, o Simões, o Costa Pereira e os outros todos. Todas as semanas compro 5 tostões na loja do Sr. Martins, na esquina da Rua das Montras. Estou à espera que me calhe o nº da bola, para ficar com a bola que está lá, pendurada por cima da lata dos caramelos.

O ano passado estive doente, fui operado no Montepio e podia ter morrido. A minha Mãe diz que foi o Dr. Ernesto Moreira que me salvou. Ainda me lembro de ir todos os dias ao tratamento, fazer o penso com a Maria do Carmo.

Este ano já posso brincar à vontade e jogar pingue-pongue. O meu Pai jogava pingue-pongue no Sporting das Caldas com o Carlos Branco, o António Tavares, o Mário Capinha Reis, o Carlos Alves. Tiraram-me uma fotografia em cima da mesa, equipado como eles.

Eu jogo pingue-pongue em dois sítios. Aqui, na Rua do Jardim, às vezes jogo no Sindicato, mas a maior parte das vezes jogo no Parque, na Casa dos Barcos. Quem aluga as mesas é a D. Adelaide, que guarda a minha raquete dentro do armário. O marido dela é o Sr. Celestino, que foi guarda do Parque mas agora está doente e anda numa cadeira de rodas com o Chico, que é o cão mais gordo que eu já vi.

O Verão já acabou mas fui muitas vezes à praia da Foz, na camioneta dos Claras. A minha Mãe diz que a praia faz bem é de manhã, só que às vezes está tanto frio e tanto nevoeiro que temos que ficar fechados na barraca até ao meio-dia, a jogar às cartas e ao prego. Às vezes a minha Mãe dá-me dinheiro para comprar batatas fritas ou uma bola-de-berlim ao Justiça, que anda pela praia sempre de fato branco.

A Aberta este ano estava fechada. Para se lá chegar tem que se andar muito, subir e descer as dunas que mudam de lugar. Acho que é o vento que as empurra. Chegamos lá cansados e depois temos que voltar tudo para trás.

A Lagoa é muito grande. Apanha-se berbigão, amêijoa, ostras, camarão, caranguejos e pescam-se enguias, robalos, douradas, sargos, linguados. Nas pedras do Mar há muitos percebes e mexilhões.

Não fiz nenhuma viagem, só o que vejo na televisão e nos livros, mas acho que a Lagoa deve ser o sítio mais bonito do Mundo.

Outubro de 2007

Já fiz 50 anos. Guardo a nostalgia do João Filipe de há 40 anos atrás, que agora só os mais próximos e mais antigos conhecem e usam. Japi, só mesmo os que me conhecem de criança e, com os anos, vão sendo menos. Sou agora, mais vezes e para mais gente, João Martins Pereira, chamando a mim o apelido do meu Pai. A vida profissional tirou-me a familiaridade do nome próprio, tratamento pouco habitual na formalidade bacoca da nossa sociedade.

Cedo tive que procurar caminho próprio e lutar por melhores oportunidades. Como se diz, nem sempre de forma apreciativa, a Vida tirou-me das Caldas, mas não tirou as Caldas de mim. No meu caso, com muito orgulho, porque aqui estão as minhas remotas das minhas memórias, aqui está a minha gente, aqui estão os Amigos que guardo de há 40 anos até hoje. É aqui que eu pertenço, é aqui o meu porto seguro.

Ao longo destes 40 anos, quase tudo mudou. O Mundo mudou, o País mudou, as Caldas mudaram, nós próprios mudámos. Não tenho sequer a certeza que tudo tenha mudado sempre para melhor, o tempo faz o seu trabalho inclemente, deixando marcas nos corpos e nas almas. Somos hoje, afinal, o resultado do que fomos antes. Conheço hoje mais coisas do que há 40 anos, mas devo saber menos, porque tenho mais dúvidas do que tinha nessa altura.

Muitos dos nossos, e mesmo alguns de nós, já deixaram o porto, embarcaram na viagem grande. Cada um que parte, e tantos nos deixaram de forma tão estúpida, inesperada, injusta e prematura, faz-nos mais um buraquinho na alma e no ser, que nunca mais conseguiremos tapar. Foi assim com o meu Pai, assim foi com Amigos que nos deixaram.

Percorro hoje as Caldas à procura dos pontos cardeais da memória.

A casa onde nasci já não existe, a Garagem dos Abrantes é hoje o Mercado do Peixe, a minha escola está em ruínas, o Pinheiro Chagas e o Ibéria desapareceram há muito, a Praça do Peixe transformou-se numa inenarrável instalação, os Pavilhões do Parque continuam sem solução, a Quinta da Boneca foi urbanizada, os nossos campos de futebol desapareceram.

A minha cidade cresceu mas parece ter embaciado, perdeu o brilho. O trânsito tornou-se caótico, o ordenamento urbanístico incompreensível. Vejo a cidade sem uma grande manifestação cultural de referência, sem uma oferta turística de qualidade, sem um factor diferenciador que a salve da mediania e da mediocridade. Quem frequentou a Praça, à noite, há 30 anos, com a Zaira, o Convívio, o Bocage, o Central, o Lusitano e a Flor de Liz a funcionar em pleno e com frequência certa e fiel, lembra-se de centenas de pessoas a circular (os grupos das “piscinas”). Quem a visitar hoje encontra um deserto.

E vejo, principalmente, a asfixia da Lagoa da Foz, o abraço da morte que, ao longo dos anos, tem vindo a ficar cada vez mais apertado. Aos atentados ecológicos dos anos 60 e 70 (abertura do canal da Aberta por meios mecânicos motivada por interesses económicos, extracção descontrolada de areias destruindo as dunas móveis, despejo de esgotos, construção clandestina nas margens) seguiram-se décadas de abandono, falta de investimento, questiúnculas políticas e de poder. A Lagoa esteve às portas da morte. Perdeu-se tempo precioso. Se bem se recordam, já o tema do Pavilhão da Dinamarca na Expo98 (pois é, já lá vão outros 10 anos) era a nossa Lagoa e a proposta de desaçoreamento.

Hoje, pelo menos, o problema do saneamento parece estar em grande parte resolvido e o efeito imediato é visível. Vi, este Verão, um bando de mais de 60 flamingos na Lagoa. É a Natureza a confirmar que o esforço vale a pena, que o contributo, o empenho e a vigilância de todos são necessários. A ensinar-nos a querer perpetuar no tempo o nosso património de cultura e de afectos.

Pela minha parte, chego aos 50 anos reconhecido à Vida, que tem sido generosa comigo, proporcionando-me o que há 40 anos não sabia existir e o que há mais de 30, quando saí das Caldas, não sonhava sequer poder alcançar.
Acabei, por acasos vários da Vida e das andanças pelo Mundo, por conhecer Pessoas e personalidades, intelectuais e políticos, ricos e poderosos.

Mas é ainda e sempre com alegria e orgulho que, 40 anos passados, volto a dar um abraço ao Mané, quando passo pela Mercearia Pena e o reencontro no seu honesto trabalho ao balcão.

Por razões profissionais e por gosto pessoal, corri grande parte do Mundo. Vivi alguns anos noutros países, conheci outras gentes, outros costumes e outras culturas. Vi caprichos da Natureza, paisagens exóticas, obras fantásticas e belezas naturais inexcedíveis.

Procurei muitas vezes a Estrada de Damasco. Estou agora convencido que começa ali na Rainha e é cada vez com mais emoção que faço a Estrada da Foz.

Há poucos anos, tive possibilidade de concretizar o sonho de ter uma casa na Foz. E agora, como sempre, sempre que acordo e olho lá para fora, sempre que olho para a Lagoa à noite, sinto que este é o mapa da minha memória, que este é o meu lugar.

Hoje já não tenho dúvidas, a Lagoa é o sítio mais bonito do Mundo. E eu estou a voltar para casa.