Tag Archives: Photographers

Fotografia histórica

O Observador publica hoje uma galeria de 62 fotografias históricas ou que, pelo menos, fazem parte da nossa história contemporanea.

São sessenta imagens históricas, mas pouco conhecidas. Algumas destas fotografias simbolizam conquistas do Homem, a evolução científica e os valores humanos. Outras retratam momentos de grandes guerras, as consequências dos conflitos e a morte.

O Observador destacou algumas destas imagens icónicas eternizadas entre 1886 e 1993. Algumas são mais conhecidas, outras passaram mais despercebidas do público por serem ofuscadas por outras mais famosas. Pode encontrar outras dezenas de fotografias históricas em Rare Historical Photos. Por enquanto, conheça estas e descubra as histórias que contam.

Alerta: algumas destas fotos são chocantes e podem ser desaconselháveis a pessoas mais sensíveis

Editado por Filomena Martins

A não perder. Para ver na totalidade aqui

Mary Ellen Mark, R.I.P.

803E-001-15a

“Photograph the world as it is. Nothing’s more interesting than reality.”

Partiu Mary Ellen Mark, (1940-2015), um dos nomes maiores da fotografia contemporânea. Uma referência fundamental da fotografia documental dos últimos 50 anos.

Fotógrafa de causas, temerária, determinada e independente,  Mary Ellen Mark tudo fez e tudo fez muito bem.

Lendárias as suas reportagens sobre os bordéis de Bombaim e sobre os Circos itinerantes da Índia, mas também os retratos espantosos, intimistas, que conseguia, desde actores e realizadores (a sua declarada paixão pelo cinema) até aos retratos de rua e à fantástica série sobre Madre Teresa de Calcutá.

Percorreu, com enorme competência os caminhos da fotografia comercial e publicitária, assinando campanhas para grandes marcas internacionais.

Viajante incansável, abriu caminhos novos à fotografia documental mas considerou-se, sempre e acima de tudo, uma “street photographer”.

Por razões que explica no texto abaixo, considerava esta a sua melhor fotografia

Mary-Ellen-Marks-best-sho-006

“This was taken in India, at a circus in Ahmedabad. I think it was called the Great Golden Circus. I’m a street photographer, but I’m interested in any ironic, whimsical images, and there’s something very romantic about a circus. I was doing a book; I spent six months travelling, saw 18 different circuses, and it was just a wonderful time. Believe me, there couldn’t be a more strange place for a circus than India.

I made an appointment to photograph Ram Prakash Singh and the elephant he trained, called Shyama. Singh had a very big ego – he was also the ringmaster, the No 1 guy – which explains the expression on his face. He actually thought the picture was all about him. I always leave it up to my subject to see what they come up with, and he wrapped the elephant’s trunk around his neck. I thought it was great and shot a couple of rolls. But when I looked at the pictures afterwards, I noticed that in one shot Shyama had slid his eyes to the side, so he had a bit of an evil look on his face. That was definitely the one to use.

I work in colour sometimes, but I guess the images I most connect to, historically speaking, are in black and white. I see more in black and white – I like the abstraction of it.

The picture has a very anthropo-morphic quality. That’s why I like this so much: I think Shyama’s communicating with me in a way. He had to stay in that position for a while. He’d had enough of the shoot. A year later, we learned that Shyama had died after eating a poisoned chapati.”

img_48741

artwork_images_113308_454850_maryellen-mark

mary-ellen-mark-0908-pp03

5758717460_d6cb48768c_b

mary-ellen-mark-0908-pp081

SONY DSC

brando

jj2332-mary_ellen_mark_x

artwork_images_113308_454809_maryellen-mark

MARY ELLEN MARK has achieved worldwide visibility through her numerous books, exhibitions and editorial magazine work. She has published photo-essays and portraits in such publications as LIFE, New York Times Magazine, The New Yorker, Rolling Stone, and Vanity Fair. For over four decades, she has traveled extensively to make pictures that reflect a high degree of humanism. Today, she is recognized as one of our most respected and influential photographers. Her images of our world’s diverse cultures have become landmarks in the field of documentary photography. Her portrayals of Mother Teresa, Indian circuses, and brothels in Bombay were the product of many years of work in India. A photo essay on runaway children in Seattle became the basis of the academy award nominated film STREETWISE, directed and photographed by her husband, Martin Bell.

Mary Ellen recently received the 2014 Lifetime Achievement in Photography Award from the George Eastman House as well as the Outstanding Contribution Photography Award from the World Photography Organisation. She has also received the Infinity Award for Journalism, an Erna & Victor Hasselblad Foundation Grant, and a Walter Annenberg Grant for her book and exhibition project on AMERICA. Among her other awards are the Cornell Capa Award from the International Center of Photography, the John Simon Guggenheim Fellowship, the Matrix Award for outstanding woman in the field of film/photography, and the Dr. Erich Salomon Award for outstanding merits in the field of journalistic photography. She was also presented with honorary Doctor of Fine Arts degrees from her Alma Mater, the University of Pennsylvania and the University of the Arts; three fellowships from the National Endowment for the Arts; the Photographer of the Year Award from the Friends of Photography; the World Press Award for Outstanding Body of Work Throughout the Years; the Victor Hasselblad Cover Award; two Robert F. Kennedy Awards; and the Creative Arts Award Citation for Photography at Brandeis University.

She has published eighteen books including Passport (Lustrum Press, 1974), Ward 81 (Simon & Schuster, 1979), Falkland Road (Knopf, 1981), Mother Teresa’s Mission of Charity in Calcutta (Friends of Photography, 1985), The Photo Essay: Photographers at work (A Smithsonian series), Streetwise (second printing, Aperture, 1992), Mary Ellen Mark: 25 Years (Bulfinch, 1991), Indian Circus,(Chronicle, 1993 and Takarajimasha Inc., 1993), Portraits (Motta Fotografica, 1995 and Smithsonian, 1997), a Cry for Help (Simon & Schuster, 1996), Mary Ellen Mark: American Odyssey (Aperture, 1999), Mary Ellen Mark 55 (Phaidon, 2001), Photo Poche: Mary Ellen Mark (Nathan, 2002), Twins (Aperture, 2003), Exposure (Phaidon, 2005), Extraordinary Child (The National Museum of Iceland, 2007), Seen Behind the Scene (Phaidon, 2009), Prom (Getty, 2012) and Man and Beast (University of Texas Press, 2014.) Mark’s photographs have been exhibited worldwide.

She also acted as the associate producer of the major motion picture, AMERICAN HEART (1992), directed by, Martin Bell.

Her book, Exposure, is a large retrospective book published by Phaidon Press. It showcases 134 of Mary Ellen’s best images, including both iconic and previously unpublished images.

Her most recent book Man and Beast features photographs from Mexico and India.

Aside from her book and magazine work, Mark has photographed advertising campaigns among which are Barnes and Noble, British Levis, Coach Bags, Eileen Fisher, Hasselblad, Heineken, Keds, Mass Mutual, Nissan, and Patek Philippe.

Cister

20130221_00023

Mosteiro de Alcobaça

A fundação da Abadia de Santa Maria de Alcobaça e respetiva Carta de Couto datam de 8 de Abril de 1153.Os domínios da Ordem de Cister ficam assim consagrados. Os do Reino de Portugal, com a conquista das cidades de Santarém e de Lisboa, em 1147, avançaram para sul em direção à Linha do Tejo. Este facto, obrigava a um povoamento rápido e eficaz para que a expansão cristã continuasse para sul. A proteção dos Coutos foi entregue à milícia da Ordem do Templo, isentando-os, tanto quanto possível, das investidas militares dos mouros. O ponto fulcral e irradiador de toda esta dinâmica era a própria abadia. A respetiva construção foi iniciada em 1178. Esta data está envolta em grande significado estratégico: quatro anos depois, São Bernardo foi canonizado.

Será, decerto, uma das primeiras abadias da Ordem a ser construída já com esta intenção. A importância do Mosteiro de Alcobaça evoluiu num crescendo cultural, religioso e ideológico. A sua monumentalidade é tanto mais evidente quanto mais límpida e austera é a sua arquitetura. Trata-se, de resto, do primeiro ensaio de arquitetura gótica em Portugal: um modelo que ficou sem imediata continuidade e que não foi reproduzido a não ser muito mais tarde, funcionando como um polo quase isolado, uma joia branca na paisagem. Está inscrito na lista do Património Mundial da UNESCO, desde 1983.

20130221_00004-Editar

20130221_00082-Editar

Fotografias: João Martins Pereira

Kathmandu

Memórias minhas, in memoriam dos milhares de desaparecidos

20071027_02983

Fotografia: João Martins Pereira

Prece

20130727_00013

20130614_00017

20130727_00014

20130824_00018

Prece

Talvez que eu morra na praia
Cercado em pérfido banho
Por toda a espuma da praia
Como um pastor que desmaia
No meio do seu rebanho

Talvez que eu morra na rua
E dê por mim de repente
Em noite fria e sem luar
Irmão das pedras da rua
Pisadas por toda a gente

Talvez que eu morra entre grades
No meio de uma prisão
E que o mundo além das grades
Venha esquecer as saudades
Que roem meu coração

Talvez que eu morra no leito
Onde a morte é natural
As mãos em cruz sobre o peito
Das mãos de Deus tudo aceito
Mas que eu morra em Portugal

Pedro Homem de Mello

Aqui, na versão de Amália

20140710_00002

20140710_00001

Fotografias: Foz do Arelho, João Martins Pereira As duas últimas imagens, com iPhone

Sebastião Salgado : Imperdível

image

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado vai mostrar cerca de 250 imagens na exposição “Génesis”, dedicada à natureza, entre 08 de abril e 02 de agosto, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa.

A exposição encontra-se em itinerância, e já passou pelo Brasil, depois de ter sido inaugurada no Museu de História Natural de Londres, em 2013.
Chegará a Portugal em abril numa produção da Terra Esplêndida, em conjunto com a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) da Câmara Municipal de Lisboa.

image

As imagens captadas por Sebastião Salgado a preto e branco sobre pessoas e natureza, abordando tanto os flagelos da Humanidade como os lugares intocados pelo Homem, têm corrido mundo em livros e exposições.

Esta mostra, com curadoria de Lélia Wanick Salgado, surge na sequência de dois anteriores grandes projetos de Sebastião Salgado: “Trabalhadores” (1993) e “Migrações” (2000), que abordaram o trabalho manual e o movimento de populações no planeta.
Por seu turno, “Génesis”, realizado ao longo de quase uma década, é uma homenagem do fotógrafo à grandiosidade da natureza e ao mesmo tempo um alerta para a fragilidade da Terra, mostrando lugares quase intocados que a Humanidade pode perder se não tomar medidas para a preservar.

As imagens, captadas em varias áreas geográficas, serão apresentadas nas secções “Sul do Planeta”, “Santuários”, “África”, “Espaços a Norte” e “Amazónia e Pantanal”.
Sebastião Salgado, 70 anos, mostrará em Lisboa imagens a preto e branco de fauna e flora em lugares pouco explorados pelo Homem, mas também as comunidades humanas das selvas do Amazonas e da Nova Guiné.

image

image

O conjunto é o resultado de mais de 30 viagens pelo mundo entre 2004 e 2011.
Em julho do ano passado, o fotógrafo brasileiro lançou em Portugal o livro “Da Minha Terra à Terra”, pela editora Individual, que conta pela primeira vez a história pessoal e faz revelações das raízes políticas, éticas e existenciais do seu trabalho.

Nascido a 08 de fevereiro de 1944, em Aimorés, Minas Gerais, Sebastião Salgado é formado em Economia e começou a sua carreira de fotógrafo em Paris, em 1973.

O fotógrafo foi alvo de uma grande exposição em Portugal, em 1993, na inauguração do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde mostrou cerca de 250 imagens.

Membro das agências de fotografia Sygma, Gamma e, posteriormente, a Magnum, Sebastião Salgado fundou a Amazonas Images, com a mulher, Lélia Wanick, em 1994, e juntos criaram o Instituto Terra para a reflorestação da Mata Atlântica brasileira.

In Diário de Notícias

Fumar mata

image

image

image

FUMAR MATA

Fumar mata. Com cinco inconclusos cigarros
morrerei decerto doutro motivo.
Cigarros escondidos, obrigatórios, demonstrativos, sexuais,
cigarros ocultos atrás de livros, fumados
na casa de banho que o vento depois não drenava,
cigarros amargos e engasgados na garganta,
comprados, deitados fora,
cigarros infrutíferos como esses anos em tudo o mais,
nem rodapé biográfico mas erupção sociológica.
Fumar mata. De não fumar nada direi.

Pedro Mexia in Vida Oculta

Os cães

imageimage

Fotografias: João Martins Pereira

Plutão

Negro, com os olhos em brasa,
Bom, fiel e brincalhão,
Era a alegria da casa
O corajoso Plutão.

Fortíssimo, ágil no salto,
Era o terror dos caminhos,
E duas vezes mais alto
Do que o seu dono Carlinhos.

Jamais à casa chegara
Nem a sombra de um ladrão;
Pois fazia medo a cara
Do destemido Plutão.

Dormia durante o dia,
Mas, quando a noite chegava,
Junto à porta se estendia,
Montando guarda ficava.

Porém Carlinhos, rolando
Com ele às tontas no chão,
Nunca saía chorando
Mordido pelo Plutão . . .

Plutão velava-lhe o sono,
Seguia-o quando acordado:
O seu pequenino dono
Era todo o seu cuidado.

Um dia caíu doente
Carlinhos . . . Junto ao colchão
Vivia constantemente
Triste e abatido, o Plutão.

Vieram muitos doutores,
Em vão. Toda a casa aflita,
Era uma casa de dores,
Era uma casa maldita.

Morreu Carlinhos . . . A um canto,
Gania e ladrava o cão;
E tinha os olhos em pranto,
Como um homem, o Plutão.

Depois, seguiu o menino,
Seguiu-o calado e sério;
Quis ter o mesmo destino:
Não saíu do cemitério.

Foram um dia à procura
Dele. E, esticado no chão,
Junto de uma sepultura,
Acharam morto o Plutão.

Olavo Bilac

A Máscara

Depus a máscara e vi-me ao espelho. — 
Era a criança de há quantos anos. 
Não tinha mudado nada… 
É essa a vantagem de saber tirar a máscara. 
É-se sempre a criança, 
O passado que foi 
A criança. 
Depus a máscara, e tornei a pô-la. 
Assim é melhor, 
Assim sem a máscara. 
E volto à personalidade como a um términus de linha. 

Álvaro de Campos, in “Poemas” 

 


Para além da curva da estrada

20130211_00088

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro

20130211_00076

20130211_00059

20110702_00019-2

20110702_00012-2

20130211_00059

Fotografias: João Martins Pereira